Capitalismo Consciente: O que ?

Segundo o raciocínio do Capitalismo Consciente, é possível que as empresas contribuam para o bem-estar da sociedade ao mesmo tempo em que geram lucro para seus acionistas

 

O que realmente é

Capitalismo Consciente é uma prática na condução de negócios – aplicada por grandes corporações, empresas, entidades sem fins lucrativos e outras organizações – que cria, simultaneamente, diferentes valores para todas as partes interessadas (ou stakeholders) como financeiro, intelectual, físico, ecológico, social, cultural, emocional, ético e até mesmo espiritual.

Em síntese, no Capitalismo Consciente — que é ainda um paradigma em desenvolvimento —, os negócios não se restringem apenas à geração de lucro, renda e empregos mas também a valores de bem-estar sociais.

“Hoje, estamos acostumados com a ideia de que a razão de ser das empresas é dar lucro aos acionistas. Preocupações de caráter social ficam então restritas ao setor público e às ONGs, que não têm fins lucrativos. Mas historicamente, nem sempre foi assim”, diz o professor Marcos Augusto de Vasconcellos, Coordenador Geral do Fórum de Inovação da FGV/EAESP.

Leia também: Empresas B, ONGs, negócios de impacto… Entenda o beabá do empreendedorismo social

3 fatores principais

Vasconcellos diz que na raiz do Capitalismo Consciente há três fatores principais:

  1. A preocupação crescente com a degradação ambiental e com a disseminação da miséria
  2. A conscientização de que a solução desses problemas só será possível com a participação ativa do mundo empresarial (Kofi Annan, quando Secretário Geral da ONU, disse que as soluções para a pobreza, a degradação ambiental e outros desafios não poderão ser encontradas se o setor privado não estiver envolvido)
  3. O impulso dado pelas Nações Unidas pelo estabelecimento dos Objetivos do Milênio (desde 2015 conhecidos como Objetivos do Desenvolvimento) e pela criação do Pacto Global (que definiu os princípios de envolvimento do setor privado na solução dos problemas da humanidade)

4 princípios básicos

Thomas Eckschmidt, diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, CEO e cofundador da ResolvJá (plataforma online para resolução de conflitos comerciais), fala que capitalismo consciente é mais do que um negócio: é uma prática que usa a força das empresas para servir ao desenvolvimento da humanidade.

“São quatro princípios básicos norteiam uma empresa que pratica o Capitalismo Consciente: propósito, orientação para stakeholders, liderança e cultura conscientes. Esses princípios auxiliam empresas criando confiança e negócios saudáveis, perenes e resilientes.”

Quem inventou

Segundo Eckschmidt, o Capitalismo Consciente não foi inventado, mas sim, revelado para a consciência do público em geral.

“As práticas não são novas nem recentes, mas foram identificadas e documentadas em um estudo do professor Raj Sisodia, em conjunto com David B. Wolfe e Jagdish N. Sheth, que originou livro Firms of Endearment – How World-Class Companies Profit from Passion and Purpose“, fala.

Abaixo, a TEDx Talk do professor Raj Sisodia:

Conscious Capitalism, organização sem fins lucrativos dedicada a cultivar a teoria e a prática do movimento, tem como fundador, além de Raj Sisodia, John Mackey (co-fundador da rede de supermercados WholeFoods) e outros membros das comunidades acadêmica e empresarial internacionais.

Por aqui, organização é representada pelo Instituto Capitalismo Consciente Brasil.

Quando foi inventado

O livro Firms of Endearment foi publicado em 2003 e a Conscious Capitalism foi fundada em 2009. Já o Capitalismo Consciente data da Idade Média. O professor Vasconcellos conta que, nessa época, já havia corporações e elas eram consideradas responsáveis por prestar serviços à sociedade.


Capa do livro Firms of Endearment, sobre capitalismo consciente
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As percepções sobre o papel das empresas começaram a mudar no início do século XX, especialmente a partir do caso das empresas automobilísticas americanas “Dodge x Ford”, no qual a Suprema Corte de Michigan adotou a seguinte decisão: “Uma corporação comercial é organizada e mantida com o objetivo primário de dar lucro aos acionistas. As competências dos diretores devem ser usadas para tal fim.”

Segundo Vasconcellos, foi somente no final do século passado que a percepção sobre o papel das empresas começou a mudar novamente, ainda que não de forma generalizada ou sistemática.

“A noção do lucro como único objetivo das empresas é ainda muito forte. Mas diversas iniciativas começaram a despontar, propondo uma espécie de ‘volta ao passado’, ou seja, defendendo a ideia de que as empresas podem, e devem, contribuir para o bem-estar social sem prejuízo do lucro do acionista”, diz.

Para que serve

Para que se construa um mundo mais justo; para que empresas possam também contribuir para o bem-estar da sociedade ao mesmo tempo em que geram lucro para seus acionistas.

De acordo com Eckschmidt, quanto mais se aplica o Capitalismo Consciente, mais oportunidades de impactar positivamente o ecossistema da humanidade são abertas.

“O Capitalismo Consciente serve para elevar a humanidade e gerar valor para todos os envolvidos, inclusive para a comunidade e para o meio ambiente. A prática melhora inclusive a autoestima das pessoas porque tem poder de inclusão e sentido de pertinência”, diz.

Leia também: Por que empresas brasileiras estão testando a integridade em seus processos seletivos?

Quem usa

Várias empresas usam o Capitalismo Consciente, em diferentes níveis:

  • Whole Foods Market
  • Starbucks
  • The Body Shop (cosméticos naturais)
  • Container Store (empresa de organização e armazenamento)
  • Trader Joe’s (cadeia de supermercados), Patagonia (loja de roupas esportivas)
  • Cotsco (rede de supermercados)

Entre outras

O professor Vasconcellos fala também de propostas internacionais, surgidas desde o século passado, de mudanças no papel das empresas. São elas:

– Triple Bottom Line (de John Elkington, em1994), Capitalismo Natural (de Hawken, Lovins e Lovins, em 1999) e Capitalismo Sustentável (de Al Gore, em 2013), voltadas para Sustentabilidade Ambiental.

– Negócios Inclusivos (de C.K. Prahalad, em 2004), Empresa Social (de M. Yunus, em 2007) e Capitalismo criativo (de Bill Gates, em 2008), voltadas para a Inclusão Social.

– Capitalismo Consciente (de John Mackey e Raj Sisodia, em 2009), B Corporations (do Estado de Maryland, em 2010) e Valor compartilhado (de M.E. Porter e M.R. Kramer, em 2011), voltadas para Criação de Valor Social de qualquer natureza.

Leia também: O que são as empresas B, que unem lucro e impacto social

Efeitos colaterais

Segundo os entrevistados, não há.

Quem é contra

Eckschmidt diz que, em geral, é contra o Capitalismo Consciente quem é contra o capitalismo em si, por acreditar que seja um sistema falido.

“Certamente, o capitalismo como é hoje, não funciona, mas defendemos que dentre todas as outras opções de capitalismo que existem, como o Criativo, o Colaborativo e o Integral, entre outros, o modelo do Capitalismo Consciente funciona, demonstra eficiência e sucesso”, fala.

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